O Zezé Milionário, quarto-zagueiro, barba cerrada, camisa pra dentro, bico certeiro, não tinha esse nome não.
Era só o Zezé, que era quase sem nome.
Quase sem nada. Quase ninguém.
Somente a bola no fim-de-semana, sua hóstia de orgulho.
Eis que um domingo à noite, agarrados ao rastilho da notícia, o gerente da Caixa, o dono do posto, dois vereadores, vários pinguços, jogadores e torcedores foram festejar com o Zezé.
O Zezé ganhara na Loteria Esportiva!
Bar lotado, leitoa, litros, loas!
Gritavam, cantavam, riam, como eles riam!
Silêncio foi só um minutinho, quando alguém propôs uma oração e todos se compungiram, um parente chorou na gola do médico, dois desconhecidos se ajoelharam.
Mas na segunda, a festa acabada, a luz apagada, o povo sumido, o dia quente, cadê o Zezé?
Zezé, para onde?
Ninguém sabia; sumira.
O dono do bar, o gerente, os amigos, o prefeito, o padre, os craques e os escroques – todos à espera de quem, com um bico certeiro, os tiraria da zona de perigo.
E o Zezé, sozinho no mato, qual bicho no escuro.
Dormiu no chão, na chuva, perdeu a roupa.
Voltou de cueca, dias depois, recebido com urras e vivas de gol decisivo.
Mas, fortuna inviolável, o Zezé contou que, tendo feito doze pontos, furara com estilete, depois do Fantástico, a pinga já no meio, o buraco exato que lhe faltara na cartela.
E agora, Zezé?
Agora o Zezé ali, no vão do despenhadeiro: tudo fugiu, tudo acabou.
E então o Zezé Milionário, que era quase sem nada, que era quase sem nome, Milionário se chamou.
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